domingo, 6 de setembro de 2015

música de amor número três

eu poderia falar aqui sobre como quase recuperei você da lista interminável de conversas arquivadas em um momento de desespero porque hoje acordei em um pulo com um suspiro profundo e suor escorrendo pela minha testa que pulsava por causa da dor de cabeça pesada e latente pois você apareceu em mais um dos meus sonhos aqueles cintilantes pegajosos e distorcidos pela minha falta de noção da realidade 

eu poderia narrar aqui sobre como semana passada enquanto escolhia uma música no celular pensei ter visto você naquela horda infinita de híbridos humanos-zumbis andando todos na mesma direção na consolação às 17:45 de uma terça-feira seca de agosto e eu juro que a nossa música começou a tocar nos meus fones de ouvido gastos criando a atmosfera perfeita para o momento mas era só minha cabeça brincando comigo mais uma vez a minha visão deturpada da nossa realidade há muito tempo destruída

eu poderia até te contar aqui como fiquei triste ali mesmo no meio das pessoas-zumbis e quis sair correndo quando percebi que era tudo uma visão tudo uma mentira mas as pessoas-zumbis olharam feio para mim e o barulho do trem chegando me intimidou por isso só continuei andando e ponderei se eu chorasse ali mesmo alguém perceberia alguém ligaria e a resposta foi não porque as pessoas-zumbis só queriam chegar até o final da linha de cada um então eu desabei enquanto andava e senti um vazio tão pesado no peito que parecia estar sendo esmagado por todas as nossas promessas feitas nas tardes úmidas de sorvete de flocos com refrigerante quando pensávamos saber absolutamente tudo sobre o mundo como duas crianças tolas personagens de um filme coming of age do festival sundance mas nós não sabíamos de nada e não fazíamos parte de um filme indie milimetricamente construído 

eu queria não usar esse artifício barato e repetitivo de falar não falando escrever sem escrever ficar ali no meio das coisas nem isso nem aquilo naquele espaço vazio onde ainda posso te encontrar sempre quando quero apesar disso me consumir tanto mas ultimamente eu só consigo te escrever assim, josé, não escrevendo

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