terça-feira, 26 de junho de 2018

uma escova de dente um livro e uma polaroid

não sabia como despejar tudo isso no papel. ou na tela do meu celular ou computador, não sei como você está lendo. digo em questão de linguagem mesmo. idioma. não conseguia pensar se continuava escrevendo em inglês, my safe made up space, ou se tentava voltar para o português e enfrentar minha realidade de uma vez. escolhi a segunda. também escolhi a segunda porque o que mais estou sentindo é aquilo que vai pelo nome de saudade. essa palavra tão difícil de ser explicada e a favorita de gente que quer falar de palavras intraduzíveis. saudade. também sinto sua falta, como poderia falar i miss you em inglês. ou até poderia mesmo apelar para i'm longing for you. mas percebi que isso já faço há tempos. é saudade mesmo. pura e simples. “sentimento melancólico devido ao afastamento de uma pessoa” é o que diz o dicionário online. e é o que eu digo também. 

estive pensando no que fazer com o tempo que passou. jogo tudo fora? guardo com carinho? o que eu faço com todos esses dias? meses? não chegamos a um ano. por enquanto, guardo aqui no lado esquerdo do peito, adormecido mas não esquecido. isso ainda não posso fazer.  tento me acostumar com a ausência que o dicionário me falou que existe na saudade. fico triste pois hoje estava andando pelo centro da cidade e lembrei que agora não tenho mais alguém pra se preocupar comigo andando pela praça da república dez e meia da noite enquanto eu, como sempre, digo que é claro que não precisa se preocupar, eu sou inatingível. mas não sou. 

essa parte é difícil. não sou inatingível, preciso repetir pra mim mesmo no espelho embaçado de vapor de cada banho que uso pra me anestesiar na água cheia de cloro. você ainda é uma pessoa por baixo de toda a pose e confiança exagerada que todo mundo pode perceber que é disfarce pra um vazio que tá mais lá no fundo. sobraram pedacinhos de mim. pedacinhos de você. fragmentos que estou lutando pra guardar enquanto minha cabeça tenta tirá-los de mim. luto pra não esquecer, até. de quem eu sou. de quem vou ser agora. eu disse que precisava me reconstruir e meu amigo disse que não. eu precisava me renovar. como um prédio comercial que agora vai mudar o ramo de negócios. os escritórios estão vazios e agora preciso ver o que posso usar do que sobrou e o que preciso de novo. 

sobrou uma escova de dente, um livro e uma polaroid. 

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