sexta-feira, 27 de abril de 2018

memories.


_eu ainda penso nele.

_mas isso é normal.

_você acha mesmo?

_eu acho. essas coisas são difíceis de apagar. eu ainda não entendo o que aconteceu, mas entendo a sua relutância em esquecer.

_minha mente tem essa mania feia de se agarrar a coisas que eu já deveria ter esquecido.

_e por que você acha que ainda não esqueceu?

_eu nunca te contei toda a história, né? mas tá tudo tão bagunçado que não sei se você vai entender. ou se eu vou entender.

_você pode sempre tentar.

_a gente se amava muito, você lembra. demais. talvez por isso já estávamos fadados ao fracasso. com coisas delicadas a gente precisa ter cuidado e sempre fomos inquietos demais. amávamos feito duas baratas tontas, se agarrando a vida juntas porque alguém acabou de espirrar veneno nelas.

_mas que coisa horrível, se comparar a barata.

_você sabe que sempre fui fã do grotesco, não sei porque se surpreende.

_tudo bem. continua.

_então tentamos. por um tempo. contrariar o nosso universo e nossas próprias regras. tentamos, mesmo sabendo lá no fundo, no lugar onde sentimos coisas que nem sei se dão pra serem sentidas, que seria em vão, talvez. ficamos juntos. viajamos juntos. nos mudamos, você se lembra. e um tempo passou. então voltei pra casa, e o resto você já sabe.

_ora, o resto já sei mesmo. mas por que voltou? isso nunca entendi.

_ele sempre me dizia que me amava. pra sempre. eu te amo, para sempre, meu amor, ele dizia. mas sempre com um mas.

_ele dizia te amo, mas?

_não dizia, é claro. mas eu sentia. eu ouvia o que não era falado.

_e qual era o mas?

_nunca soube. mas eu sabia que também o amava. pra sempre. esse era o problema. eu o amava. pra sempre. sem mas. então tive que deixa-lo. e voltei pra casa.

_se o amava pra sempre, sem mas, então por que voltou?

_se eu não tivesse voltado, teríamos durado pra sempre.

_sem mas?

_sem mas.

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